quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Um pedido de desculpas aos meus pais

Pai. 
Mãe.
Me desculpem.
Esse pedido de desculpas não tem todo o meu pesar e acho que nenhum outro vai ter o que eu sinto aqui dentro. Vocês devem me perdoar até, mas eu não consigo me perdoar. Me desculpem por isso também. 
Com muito custo eu pensei em trancar meu curso e com mais custo ainda contei a vocês, com meu coração na boca. Pai, você me entendeu logo de cara e perguntou quanto seria o cursinho e eu sou muito grata por isso. Muito obrigada. Mãe, mesmo resistindo bastante e querendo que eu terminasse a minha graduação, no final, você me apoiou. A máxima é verdadeira: - Mãe, é mãe. Muito obrigada. Eu estava decidida que eu faria desse semestre o meu ano e vocês depositaram suas fichas em mim e sei que ficam ansiosos pelo resultado, assim como eu ficava, mas dessa vez ele é explícito pra mim. Não vai dar. 
Eu lembro que você, pai, mesmo não tendo muito dinheiro livre pra gastar, quis que eu tentasse os melhores cursinhos porque acredita em mim. No geral, você fez o que podia e o que não podia por mim. Obrigada por ser meu pai e tratar da minha educação e dos meus irmãos um investimento não só nosso, mas seu também. Eu sei o quanto é importante pra você nos ver formados e com uma profissão estável, diferente da sua. Eu vou me dar e te dar isso um dia. Por você ter acreditado em mim, eu corri atrás de uma bolsa no pH - hoje saiu um ranking que este é uma das 10 melhores escolas do país, sendo respectivamente o primeiro. obrigada por ter me colocado entre os melhores. - e conseguimos um bom desconto pela minha instrução e colocação em vestibulares anteriores, ainda puxado pra quem tem 3 filhos, mas um bom desconto. Obrigada por esse sacrifício. Faz as suas horas ausentes serem perdoadas ou pelo menos um pouco. Eu fiquei tão feliz com a possibilidade de poder estudar de verdade pro que eu queria. Foi encantador e assustador ao mesmo tempo. Tecnicamente, faltam dois períodos para que eu termine a graduação e estar no ambiente de cursinho nunca fora 10+, ainda mais numa situação como esta. Eu tinha uma pressão interna e externa por isso. A grande maioria dos alunos era bem nova, e eu tenho meus 21 - que pesam - era anne x anne. Só. Meu psicológico começou a se moldar naquele mar de monstros. Fui construindo uma rotina com um bom material e com bons instrutores. Desesperei-me com o ritmo, acalmei e até percebi que ali eu aprendi matérias que nunca tinha visto no colégio. Era intensivo. 
Mãe, eu nem preciso lhe dizer o quanto você foi e é essencial nessa minha jornada - um dia ela vai acabar, eu garanto. E você vai me ver mais feliz do que nunca. Acredita nisso comigo? - mas enquanto não acaba, eu vou tentar continuar buscando-a. Eu só tenho a lhe agradecer pelo apoio físico, moral e psicológico que só se encontra no amor de mãe. Sem você eu não estaria forte hoje, como estou. Teria definhado no dia 31. Eu te amo e sou imensamente grata, mesmo você fazendo tudo à sua forma, que vez ou outra eu acho meio torta. Obrigada pelos abraços, conselhos, carinho e principalmente pelo silêncio e espaço que me destes. Obrigada pelas flores que alegraram aquelas manhãs tácitas e que foram regadas à lágrimas. Obrigada por ter só sentado na cama e me visto chorar - como faço desde que comecei a escrever - me colocado pra ver o dia, quando cá dentro era noite, e assoprado o meu coração pra ele esquentar. Você é indispensável em minha vida. Vocês são. Não gosto nem de imaginar a minha vida sem vocês.
Eu fui mal na prova e dessa vez eu fui mal de verdade. Lembrei de coisas que eu não queria e nem devia - Bernardo fora justo em me contar, não o perdoaria de forma contrária. Acho que ele me ama, mas não sei o que houve e me doi não saber - não sabia articular, perdi tempo, chorei e meu preparo não fora completo. Meu rendimento no cursinho, destaque nos pH's iniciais da minha turma, caiu e eu não tinha forças pras aulas. O trajeto era longo até lá, eu estava fraca e tinha medo que acontecesse algo. Perdi as contas de quantas vezes voltei quando estava no meio do caminho. Eu não era eu. Perdi 5kg em pouco menos de duas semanas. Eu sei o quanto você se preocupou, mãe. E peço perdão por essa preocupação. Mas não deu. Essa deve ser a minha menor nota entre os últimos anos que tentei, mesmo sem cursinho. Eu fui lá e fiz o que deu, mas não o que eu era capaz. Eu fiz o que consegui lidar emocionalmente. Nesses dois dias de prova os pensamentos me engoliram e eu não fui capaz de cuspir neles. Eu só fui por vocês. O máximo de esforço foi por vocês. Por mim? Eu nem iria. Não estava preparada para aquilo. Até a redação me engoliu. As palavras me enforcaram, rasguei a métrica e fiz parágrafos indevidos. Tema conhecido, discuti sobre ele minutos antes da prova, mas eu não me conhecia mais. Mãe e pai, não deu dessa vez. Mais uma vez. O quanto me doi falar mais uma vez. Essa era pra ser a vez. Mas não deu.
Muito obrigada, eu sou infinitamente grata a vocês. Pra sempre. E vou fazer Medicina com e para vocês. Eu acredito que vocês ainda irão se orgulhar de mim. Eu vou resistir aos meus pensamentos por isso.
Perdão.

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