sábado, 19 de fevereiro de 2011

sem conceito

O lado do avesso era espesso e eu só fui perceber bem depois de deitar no sofá. Fiz o inverso.
Desliguei a TV, mas os reclames ainda estavam em mim.
Minha barriga emitiu um som estranho, o que evidentemente mostrava fome, ou apenas indiferença. Eu não liguei. Que ela consiga suportar o café-da-manhã do dia anterior.
Meu corpo esquelético não tem lá muitas reservas de gordura. Eu devo morrer cedo, sempre tive essa impressão.
Lipídios e mais lipídios.
Eu já nem lembro o que eu queria, me perdi olhando pro ventilador.
Ele gira numa dança compassada, sem conceito.
Ele me devorava.
Além da fome, só ele o fazia.
Já eu, não devoro ninguém.
Não devoro ninguém desde você, desde que eu prometi nunca mais devorar ninguém com amor do fundo do coração.
Fôlego.
Comeram o meu coração.
Sim, me devoraram por inteira e eu gostava de ser consumida. Algo como combustível.
Virei vegetariana.
Sou pálida, um pouco verde, um pouco magra e deveria comer só folhas. Eu virei vegetariana de amor.
Aquelas ondas devoradoras me levaram àquela praia. (sim, a dos seus sonhos)
Eu joguei na praia dos teus sonhos os meus, e com ele a palavra que me lembrava você. lu...y (eu não consigo pronunciar)
Espero que a pessoa que a encontre seja mais feliz que eu.
Eu continuava no sofá e com o café do dia anterior.
Com sorte eu sobreviveria, mas eu a deixei com o mar e estou naufragada em mim.
Sem cor, como a minha tv por hora. Minúscula, antes Maiúscula.
Só um corpo.
Sorte.